Sinopse:
Tinha vinte e cinco anos quando comecei a escrever estas análises na página 2 do Expresso, já levava mais de um ano de colaboração nesse semanário e mais de dez de intervenções avulsas em diários e semanários nacionais, locais e académicos.
Semana a semana, falei de um golpe militar que se convertera em revolução, do crescendo desta, da sua fase mais crítica, do seu refluxo e da sua morte.
Fi-lo ao mesmo tempo que vivia intensamente o processo social e político em curso, como participante na génese do Partido Popular Democrático, futuro Partido Social Democrata (nascido no Expresso e nele, de facto sedeado nas primeiras semanas), como seu dirigente nacional e distrital e como deputado à Assembleia Constituinte.
As análises da página 2 queriam ser, além de intervenção na revolução, pedagogia sobre a política, a democracia, a constitucionalização do novo regime, os grandes debates que atravessavam a revolução, de que um não menor era, precisamente, o que opunha constituição e revolução. Para que a pedagogia fosse possível e a intervenção tivesse sentido, importava ir descrevendo, às vezes dia a dia, a evolção vertiginosa dos acontecimentos, assim conferindo às análises o carácter de registo da revolulão.
Ao reler o que escrevi há trinta anos, acabado de formar e a começar uma vida académico-político-jornalística, não posso deixar de ter saudades. Muitas saudades.
Saudades daqueles tempos apaixonantes. Saudades da experiência única de viver uma revolução. Saudades de ter vinte e cinco anos quando a vivi.